O sol já quase adormece quando saio da praia depois de um mergulho à hora de jantar na água fria. De cabelo ainda molhado e fato-de-banho enrolado na toalha, chego ao carro. O único no parque. Olho para a areia colada aos calcanhares. Inclino-me para a sacudir com a mão. Passo-a pela canela abaixo, até ao calcanhar. Os grãos despegam-se, obedientes, a cada passagem da superfície áspera da minha mão pela perna onde se aninharam. Escuto com atenção o som dos grãos que se soltam da minha pele e caem para a areia do parque de estacionamento. A cada passagem da mão, aquele raspar áspero, soando como a tímida pandeireta de uma orquestra clandestina. Toco-a sucessivamente, três, quatro vezes. Sempre o mesmo som. Sempre o mesmo silêncio. Sempre o mesmo som. Sempre a mesma brisa que passa, sempre o sol alaranjado que imagino já a cair no mar, sempre a minha mão tocando a pele e a areia. Fecho os olhos. A minha perna está limpa e ouço, ainda, a memória do som que se mantém, suave restolho de um início de verão. Suave, e cadente, certeza de mais um ciclo que se reinicia, desta vez comigo para o ver chegar e partir.
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