Os olhos no metro de Londres nao tem cor nem vida. Vao vazios. Vazios vazios.
Nao tem nada dentro, nada. Nem filhos, nem amores, nem casas mais tarde (ao final do dia), nem jantares com a familia, nem um jornal a lareira; nem uma garrafa de vinho, ou um cha quente, ou o proximo fim-de-semana na neve. Nada.
So um vazio transparente, um bater de rodas nos carris. Tum-tum, tum-tum.
Chiar de travoes.
Saem. Entram.
Olhos ocos, no chao, no tecto. Nos outros olhos, que tambem nao veem.
Milhares de olhos, de pescocos curvados, de baladas no iPod. E um calor sufocante a garantir que afinal ha respirar.
Milhares de robots, de carne quente, esmagados, anonimos, anonimados. Inanimados. Pedacos de gente.
Pedacos de Coisa.
Nao ha vida, no metro de Londres. So Quimica e Fisica. Ou nao-fisica, porque está muito cheio, ja nao ha espao para mais nada. Nao-fisica, nao-quimica, nao-nada.
Pedacos de nao-nada.
Pedacos de nao-nada
Véus na noite
Hoje sonhei que a minha mae me obrigava a casar com uma pessoa que conheco. Tudo estava preparado, a festa, os convidados, as expectativas sociais. Era o meu casamento. A decisao de uma vida.
Mas eu nao queria. No ultimo dia arrependi-me. "Mae, nao quero casar com ela!!"; estava aterrado.
"Agora ja esta tudo combinado, agora tem de ser."
"Nao nao! Mae, nao quero!! Eu nao gosto dela! Nao sei onde estava com a cabeca quando combinei isto. Nao e nada disto que eu quero!!"
"Oh filho nao ha volta a dar agora. Ja temos a igreja marcada e tudo. O padre ta ca amanha ao meio-dia em ponto."
E na minha cabeca desesperada, a imagem da noiva de branco, aquele paozinho sem azeite nem sal!!, "mas que mal fiz eu, meu Deus??", e a minha liberdade esvaia-se no sorriso cinico do meu pai,
"As decisoes estao tomadas Luis", e eu arrancava cabelos com ambas as maos, "nao ha volta a dar."
Meu Deus, meu Deus, revolto-me desesperado, e uma luzinha entra pela janela.
Ai.
Ai. Nao quero casar com esta gaja!
Que horas sao?
Quatro e trinta e oito. Mae?
Nao esta aqui a minha mae. Que quarto é este?
Agua. Agua. Meia garrafa. E a noiva esta deitada ao meu lado. Ai!! Viro-me. Nao. Nao. So um candeeiro. Luz,
Luz!!
Fundida.
Mae nao!!!!!! Nao quero casar com ela!! Quero ficar sozinho; e a minha vida cai-me aos pés.
Pés. Andar. Saio da cama. Ate a porta. Interruptor. Luz.
Luz. Luz. Dia. Noite. Dia.
Olhos bem abertos.
Noite escura. Quarto com luz.
Foda-se. Que medo. Que susto.
Meu Deus.
Sem titulo. ou entao: um par de caras
As vezes olho para certas caras e tenho pena das pessoas. Certas caras fazem-me pena. É um sentimento horrivel e desconcertante. Nao percebo se é solidário, arrogante ou impotente.
Sem duvida, completamente ignorante. Nao sei explicar.
Fazem-me pena, certas caras; certas pessoas por detras de certas caras.
Menino mau
Antonio so tinha ideias de menino mau.