Num ano que comecou em euforia e se tem mantido em altos niveis de entusiasmo, este foi o primeiro momento verdadeiramente triste:
É um momento de solidao tao profunda que eu próprio ia chorando, se todo o líquido do meu corpo nao estivesse naquele momento a suar pelas costas abaixo numa quente noite em Bangkok.
É tao triste ver um grande atleta como o Federer desesperadamente, torneio apos torneio, a tentar regressar a numero 1 do Mundo, e já nao conseguir!
Com 27 anos, supostamente no pico da carreira, um jogador soberbo, o melhor jogador que o Mundo viu durante anos a fio, ainda um grande jogador, a anos-luz de qualquer terceiro melhor, ainda a jogar quase tao bem como sempre jogou, ainda a treinar como um doido, ainda jovem, ainda a querer ganhar, a querer chegar lá, e sem conseguir!
Que difícil e solitária é a rota de Federer, sabendo que já foi de longe o melhor de todos e que, apesar de ainda ser espantoso, já nao é o melhor e provavelmente já nao vai conseguir!!
É terrível. Luta e luta e luta, mas alguém mais novo, mais forte e com mais energia já nao o deixa voltar lá. Nao é horrível? Um jogador no topo de forma, esmagadoramente superior a qualquer outro excepto um, jovem e com anos de ténis pela frente, já nao chega ao topo!, porque apareceu um que mesmo que nao seja melhor, é mais forte!
O Federer nao é um numero dois. Um jogador que foi durante anos e anos e anos numero um, odeia ser numero dois!
Tudo o que ele mais deseja é voltar a ser numero um. Tem 3 ou 4 anos de ténis pela frente, nao é velho nenhum, é um atleta perfeito na forca da idade, mas, apesar de tudo é demasiado velho, parece demasiado velho.
Que solidao. Treinar todos os dias, dar o maximo, saber que limpa qualquer um menos um, e que esse um nunca mais o vai deixar voltar a ser o primeiro. Tres ou quatro anos de treino duro duro duro, a limpar tudo e todos e a saber, a cada dia que passa, que provavelmente nao vai chegar nunca mais ao topo.
Um atleta de topo, a treinar a niveis de topo, sem conseguir chegar ao topo.
É de uma tristeza avassaladora. "God, it's killing me!"
It's killing me!, e corroi-se todo por dentro, em frente a milhoes de pessoas, olha para ele proprio e parece perguntar "O que é que eu posso fazer para ganhar a este gajo!"
Parece um fim de carreira. Parece aqueles grandes desportistas que se mantém em competicao já meio envelhecidos, e devagarinho vao fazendo menos resultados, até desaparecerem sob uma última e comovida ovacao. Faz-me lembrar o Agassi, aos 35 anos - ainda a jogar, a fazer meias-finais e finais, e a despedir-se quando já nao dava para mais.
Sinto uma agonia enorme ao olhar para o Federer e pensar que, na cabeca dele, provavelmente continuar no tenis faz cada vez menos sentido - lutar todos os dias e a cada que passa, ficar mais longe do único lugar onde ele realmente cabe, que é como numero um.
Acho que neste post o Maradona tem imensa razao quando diz que "o que estamos a observar entre o Federer e o Nadal é, talvez, o que seria inevitável acontecer se todas as décadas fossem beneficiadas por dois inigualáveis jogadores de ténis separados por 5 anos de diferença."
O Nadal também teve a sua dificil escalada, muito dificil, também ela por certo com momentos de dúvida e frustracao, de eterno numero dois e not good enough; mas apesar de tudo isso foi na fase ascendente da carreira dele, e a solidao do Federer é no topo da carreira, ou no que parece ser um ocaso antecipado.
É uma tristeza. Uma tristeza. Agora que, depois dos horários australianos me desabituei de ver futebol, a única história desportiva que me realmente interessa é a do Federer; que é, já agora acrescento, o meu jogador preferido desde uma batalha infindável com o Tommy Haas no Austalian Open de 2002, ainda era ele numero 13 do Mundo.
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