Há algo de ridiculamente solene nas cartas. Uma carta de demissão, por exemplo. Ou, indo mais longe, a minha carta de demissão.
“Caro Dr…
Venho por este meio…
…e isto…e aquilo…
…com os melhores cumprimentos…”
Imprimi a carta, assinei com o meu nome e olhei-a. Um pequeno documento com o peso de uma vida que dá uma curva. Aquela folha de papel é o acto solene que culmina um ano e meio de trabalho, uma série de entrevistas, dezenas de interrogações e uma decisão.
Olho a minha carta de demissão e sinto-me ligeiramente mais vivo do que antes de a olhar.
Sou alguém, naquela folha de papel. O receptor da carta recebe algo que trata exclusivamente de mim.
Estou ali, naquela folha. E não posso fugir dela.
Que pouco vale a palavra dita, quando uma escrita a pode provar em contrário.
É forte, e melancólico, o poder das cartas de demissão.
A carta de demissão, quando fruto de dois minutos de reflexão entre a sua impressão e a saída do seu autor do escritório, já atrasado
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