Cheguei a uma conclusão engraçada: é raríssimo não gostar de um livro.
Já não me lembro da última vez em que disse a alguém “Não gostei nada daquele livro.” ou “Esse autor é mesmo fraquinho!”
É verdade que andei à guerra com o Lobo Antunes pela sua Memória de Elefante, mas depois de me habituar àquela cabeça transtornada acabei por lhe dar o merecido valor que cabe aos génios. Inicialmente, também já me estava a passar com o Steinbeck com East of Eden, mas hoje em dia já não consigo adormecer sem avançar algumas páginas.
Geralmente, mesmo que inicialmente não goste por uma razão ou por outra, dou o benefício da dúvida aos livros e acabo por lê-los até ao fim. Acho que, à excepção do Conto de Duas Cidades do Charles Dickens, nunca deixei um livro de ficção a meio. Nem sei porque deixei esse. Acho que estava em pulgas para ler outro e acabei por não voltar a pegar-lhe.
Quando estou a ler um livro, mesmo que não esteja a gostar muito, encontro pequenos pormenores que me deliciam. Um pensamento, uma forma de o escrever, uma escolha de palavras. Pequenas coisas. Há livros que valem por si só do princípio ao fim e que fechamos, no final, com aquela agonia alegre de uma vida que vivemos e ficou para trás. Mas outros, que não têm a mesma majestade enquanto Livro, podem cativar-nos por breves passagens ou por todo um estilo.
Acho que é por isso que nunca desgostei de um livro – cada livro de ficção é um mergulho profundo na cabeça de outra pessoa, nos seus debates internos, no seu expressionismo, na esquizofrenia com que cria, do zero, gentes e lugares a quem dá vida própria. Mesmo que não nos agrade o estilo, a personagem, o enredo, temos perante nós a possibilidade de conhecer alguém com quem dialogamos apenas através do mundo que cria: o autor falando-nos através do espaço imaginário que criou para nós, nós respondendo-lhe através da nossa recriação pessoal desse mesmo espaço.
Para além de tudo isto, desconfio que o facto de geralmente só ler autores consagrados ou autores premiados também contribui para que eu goste dos livros que leio. Acontece que, regra geral, os Grandes autores escrevem – na minha opinião – para exorcizar na ficção os problemas que os afligem e os consomem. E assim, mesmo no mundo fictício de um universo ficcionado, o leitor têm acesso às fúrias, dúvidas, certezas e alegrias de quem lhe escreve.
Os Grandes autores são, na maioria dos casos, pessoas supremamente inteligentes ou profundamente perturbadas com a sua vida e o seu tempo. Por isso, é-me difícil não gostar de os ler, mesmo que não goste do que me escrevem.
Os grandes livros – que não são necessariamente os livros que mais nos entretêm – encerram anos e anos de dúvidas e interrogações, que só através da escrita são superadas.
É enriquecedor poder, enquanto leitor, aceder a essas questões e questionar, na nossa própria consciência, os mistérios que elas encerram e que levaram alguém a inventar todo um mundo inexistente, como forma de as varrer de si.
Já não me lembro da última vez em que disse a alguém “Não gostei nada daquele livro.” ou “Esse autor é mesmo fraquinho!”
É verdade que andei à guerra com o Lobo Antunes pela sua Memória de Elefante, mas depois de me habituar àquela cabeça transtornada acabei por lhe dar o merecido valor que cabe aos génios. Inicialmente, também já me estava a passar com o Steinbeck com East of Eden, mas hoje em dia já não consigo adormecer sem avançar algumas páginas.
Geralmente, mesmo que inicialmente não goste por uma razão ou por outra, dou o benefício da dúvida aos livros e acabo por lê-los até ao fim. Acho que, à excepção do Conto de Duas Cidades do Charles Dickens, nunca deixei um livro de ficção a meio. Nem sei porque deixei esse. Acho que estava em pulgas para ler outro e acabei por não voltar a pegar-lhe.
Quando estou a ler um livro, mesmo que não esteja a gostar muito, encontro pequenos pormenores que me deliciam. Um pensamento, uma forma de o escrever, uma escolha de palavras. Pequenas coisas. Há livros que valem por si só do princípio ao fim e que fechamos, no final, com aquela agonia alegre de uma vida que vivemos e ficou para trás. Mas outros, que não têm a mesma majestade enquanto Livro, podem cativar-nos por breves passagens ou por todo um estilo.
Acho que é por isso que nunca desgostei de um livro – cada livro de ficção é um mergulho profundo na cabeça de outra pessoa, nos seus debates internos, no seu expressionismo, na esquizofrenia com que cria, do zero, gentes e lugares a quem dá vida própria. Mesmo que não nos agrade o estilo, a personagem, o enredo, temos perante nós a possibilidade de conhecer alguém com quem dialogamos apenas através do mundo que cria: o autor falando-nos através do espaço imaginário que criou para nós, nós respondendo-lhe através da nossa recriação pessoal desse mesmo espaço.
Para além de tudo isto, desconfio que o facto de geralmente só ler autores consagrados ou autores premiados também contribui para que eu goste dos livros que leio. Acontece que, regra geral, os Grandes autores escrevem – na minha opinião – para exorcizar na ficção os problemas que os afligem e os consomem. E assim, mesmo no mundo fictício de um universo ficcionado, o leitor têm acesso às fúrias, dúvidas, certezas e alegrias de quem lhe escreve.
Os Grandes autores são, na maioria dos casos, pessoas supremamente inteligentes ou profundamente perturbadas com a sua vida e o seu tempo. Por isso, é-me difícil não gostar de os ler, mesmo que não goste do que me escrevem.
Os grandes livros – que não são necessariamente os livros que mais nos entretêm – encerram anos e anos de dúvidas e interrogações, que só através da escrita são superadas.
É enriquecedor poder, enquanto leitor, aceder a essas questões e questionar, na nossa própria consciência, os mistérios que elas encerram e que levaram alguém a inventar todo um mundo inexistente, como forma de as varrer de si.
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