É raro dar dinheiro na rua a arrumadores, drogados, alcoólicos e tocadores de flauta sem banho e rodeados de cães. Aliás, não é raro, é raríssimo. O máximo que dou é uma moeda a um arrumador quando estou num bairro mais manhoso, a pessoas velhinhas pobres, a mutilados e a cantores de metro com jeito. (Também não dou nada aos homens-estátua.)
Noutro dia estava no Chiado com dois amigos quando passa por nós um daqueles rapazes novos e magrinhos, vestidos de preto coçado e sem duche há dois anos, de boné esticado, que suplica, do fundo do seu parasitismo desokupado,
“Entre os três, não se arranja aí uma moedinha?”,
ao que eu continuei a minha marcha indiferente e um dos meus amigos responde, com o ar bem natural de quem – como ele – vive na dimensão paralela dos que se tão a cagar,
“Só cheques e cartões de crédito, filhos da puta!”
e continuámos a nossa caminhada.
Nunca desejei tanto ter sido eu a dizer alguma coisa e ainda hoje, semanas depois, invejo o meu amigo pelo prazer que lhe deve ter dado dizer aquilo àquele calão sem vergonha.
Lembrei-me agora de uma história
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