Um executivo japonês, que marcou uma caçada em Marrocos, atrasa-se um dia na partida de Tóquio. A agência mete-o noutro grupo. O guia do novo grupo não é Hassan. O executivo, que nunca o conhece porque o vôo se atrasou, não lhe dá uma espingarda. E Hassan, que nunca teve a espingarda, não a vende ao vizinho, que não a dá aos filhos para que a levem para o campo e matem os chacais que matam as cabras que pastoreiam. Os filhos não disparam a espingarda que não têm contra um autocarro de turistas, e Susan não é ferida no seu assento à janela. Rachel poderá tomar conta dos filhos de Susan tal como esperado e não terá de se mover nos corredores do poder americano para ajudar a amiga Susan, que não estará em apuros em Marrocos. A empregada mexicana poderá ir sozinha ao casamento do filho, e manterá a sua vida americana, igual ao que foi durante 16 anos. Abdul e a sua família continuarão na sua rotina diária, o seu filho mais velho não morrerá às mãos da polícia, e o mais novo não será condenado a prisão e continuará no seu caminho adolescente até à maturidade. Um polícia japonês jamais compreenderá o coração de uma adolescente surda-muda. Na cordilheira do Atlas o dia de amanhã será igual ao de ontem, a família de Rachel seguirá a sua pacata existência de subúrbio em San Diego, com os seus dramas conjugais e empregada mexicana, e o polícia japonês continuará a olhar a mulher como sempre olhou.
Quantos motivos poderiam ter levado o vôo do executivo japonês a atrasar-se. Quantos outras razões poderiam haver, para ele nunca ter conhecido Hassan, para nunca lhe ter dado uma espingarda, sequer para ele nunca ter ido a Marrocos. Quantos infinitos conjuntos de causas com efeito se juntam num dado momento, para que tudo se passe de uma forma, e não de outra.
Quanta responsabilidade, em cada pequeno acto.
Babel
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Unknown
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