Camélias e incertezas









E é nesse momento em que o Mundo parece desabar à tua volta que rodopias sobre a tua cintura e cortas o espaço de lado a lado com o teu tronco, dobrando-te num agachar tão violento que nenhuma das árvores que cai te esmaga a vontade, nem os blocos de cimento que se despedaçam no chão em teu redor te acertam, nem aquela massa de água que se revira em espirais assassinas te engole dentro de si.

Não compreendes como te escapas daquela destruição sufocante que engole todos os que fogem à tua volta. Dono do teu corpo, contorces-te em todos os ângulos de borracha e carne crua com aquela vontade tão tua de agarrar a vida. Um a um, vê-los a ser levados pela maré destruidora dos Elementos, e quando o vento finalmente pára de ladrar a sua ira assassina e a água pousa num horizonte de calcanhar, estás de pé com os braços no ar, arranhado pela tua luta.

Um mar de destroços e vapores de sangue e lágrimas rodeia a tua vitoriosa conquista, tu, esse frágil pedaço de Vontade, que só querias um jardim à beira-mar.

Tu, rei e senhor desse Mundo de destroços, que davas tudo por um abraço e agora estás sozinho numa luta sem adversário.

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