Já fui um católico fervoroso, já fiz peregrinações, já vi muitas maravilhas impensáveis do Homem e da Natureza pelo Mundo fora, já tive em situações de algum extremismo, já vivi felicidade pura, já li incontáveis livros, falo uma data de línguas, conheço gente de todo o lado, tirei um curso superior, trabalho há dois anos, debato a lógica das coisas quase todos os dias com quase todos os meus amigos e já troquei palavras e actos com mulheres que não acabam, e depois de tudo isto e mais o que quer que seja, continuo sem perceber, nem por um bocadinho, o que é que leva uma mulher linda a prostituir-se.
É o maior mistério da minha vida e estou a anos-luz de resolvê-lo, até porque, por princípio, não me parece que vá algum dia cair na tentação de pagar a uma brasileira de 1,85m para me responder à pergunta com uma aula prática de 300 Euros.
Consigo compreender as motivações para o suicídio, para o assassínio, para o roubo, para a auto-mutilação, até para o espancamento de um ser amado, para a fúria, para a inveja e o ciúme. Compreendo as motivações para o prazer, a gula, a luxúria. Até percebo o gosto em andar de avião que algumas pessoas têm.
Mas vender o corpo? Uma mulher bonita e que não precise do dinheiro por uma mera questão de sobrevivência?
A Mulher. Esse ser desejado por todos os homens.
A Mulher, se se souber fazer bonita, arranjada, limpa e atraente, é senhora de todo o poder do Mundo. Uma mulher atraente consegue tudo da maioria dos homens, apenas insinuando a possibilidade de uma futura troca de carícias com ela.
Um sorriso de dentes direitos compra polícias de trânsito, ganha lugares em filas de supermercado, recebe descontos, troca camisolas sem talão. E isto só para começar. E isto só para lembrar exemplos em que o homem subtilmente corrompido nem sequer vê a mínima hipótese de sexo em troca. Basta-lhe o sorriso e a dúvida com que vai para casa: “Será que se eu tivesse insistido, acabava nos lençóis dela?”
Essa mesma mulher atraente sobe lugares na escada da empresa, do partido, do grupo de amigas, do grupo de amigos, da turma da faculdade. Esses, mesmo que não queiram, não se apercebam, ou não admitam, estão sempre pendentes de uma remota possibilidade da sua reverência ser um dia recompensada com uma noite secreta de loucura. Uma mulher atraente conquista uma sala quando entra, e é tratada com mais carinho e com mais respeito do que as outras. Uma mulher atraente sabe como é olhada, e sabe como usar a sua aparência para conquistar os homens e as outras mulheres.
E o seu poder – ignorando aqui que pode ter mil e uma outras qualidades – sexual advém directamente da sua aparente inacessibilidade. De ser uma princesa linda e senhora de si, fiel guardiã do seu segredo mais desejado: a sua Sexualidade.
E quantas – quantas!! – mulheres lindas, que podiam passear a sua magia pelas quatro praças do Mundo se fossem dotadas de alguma cabeça, vendem esse maravilhoso prazer da sua cama (e do seu amor?) por umas centenas de Euros, todas as noites, durante anos das suas vidas, cedendo os seus corpos de fadas voadoras a desconhecidos brutos e feios?
Penso na fácil acessibilidade de possuir a mulher da minha vida por umas míseras notas, e toda a minha Razão se inverte. “Mas afinal” – penso – “afinal como é que elas são tão poderosas, se são tão baratas e acessíveis?”
Afinal, como podem duas mulheres iguais ter tanto diferencial de poder, uma talvez senhora do Mundo, outra uma prestadora de serviços acessível por baixo preço?
E nós, homens, seremos nós burros ao ponto de não compreender que não devemos ceder, nem por um momento, nem na fila do supermercado nem na reunião de trabalho, à mera aparência física, porque essa está acessível quando quisermos e em qualquer lado, a baixo preço?
Não. Nós, parecendo que não, sabemos bem a diferença entre a prostituta linda e a mulher linda. Nós sabemos bem que – apesar de sermos cegos pela noite com ela – a noite paga sabe a carne, apenas, e a noite sacada a ferro e fogo sabe, pelo menos um bocadinho, a desafio, a conquista, a vontade mútua, a auto-estima, quem sabe a amor. E cega. A noite conquistada cega-nos, por vezes.
E quem diz noite diz noites, ou dias, ou quanto tempo for, fazendo o que quer que seja. Por vezes, nem necessita de ser noite. Basta um beijinho. Basta saber-nos no bom caminho, na conquista daquele coração inacessível.
E então eu passo na rua, e abro revistas, e ouço histórias, de princesas encantadas por quem meio Mundo dava dois dedos e mais algum, que trocam essa sua maravilhosa dádiva por um par de sapatos novos ou umas calças de marca, ou até por um novo apartamento, e deprimo-me de novo.
Lindas de morrer, donas de qualquer homem com meia medida de masculinidade, vendem-se ao primeiro que aparece, ficando para sempre rotuladas a esse lote tão bem definido que são as Prostitutas, donas de todos os prazeres e carentes do segredo que perderam e que – qualquer um de nós se apercebe, quando as vê passar – jamais recuperarão.
E são nesses – e noutros – momentos de lúcida dúvida, que, apesar de atormentado pela questão essencial da princesa que se vende, compreendo quão pouco vale a aparência da Mulher, porque é tão fácil de comprar.
Nesses momentos apercebo-me do ridiculamente sensível que o Homem é a estímulos sexuais de mulheres lindas e compreendo então que a verdadeira beleza da Mulher está nela própria.
Desisto de me atormentar com o poder das mulheres lindas e com as razões da sua prostituição, e fico só na minha contemplação descomprometida da beleza da Mulher, da sua sensibilidade, das suas manhas, da sua graça pé ante pé, do cuidado consigo, das suas conjecturas labirínticas por um objectivo que nenhum homem alguma vez discernirá, pela sua batalha nas pequenas coisas, pelo seu olho atento ao pormenor.
E nesse momento tenho uma pena miserável de todo e qualquer Homem que compre o sexo de uma prostituta ou ceda ao mero indício de um corpo bem formado, e alegro-me por aqueles que sabem ver para além dessa carnalidade incontida do sexo fácil e saibam amar – mesmo que furtivamente, mesmo que por uma noite só – qualquer Mulher como ela é.
É o maior mistério da minha vida e estou a anos-luz de resolvê-lo, até porque, por princípio, não me parece que vá algum dia cair na tentação de pagar a uma brasileira de 1,85m para me responder à pergunta com uma aula prática de 300 Euros.
Consigo compreender as motivações para o suicídio, para o assassínio, para o roubo, para a auto-mutilação, até para o espancamento de um ser amado, para a fúria, para a inveja e o ciúme. Compreendo as motivações para o prazer, a gula, a luxúria. Até percebo o gosto em andar de avião que algumas pessoas têm.
Mas vender o corpo? Uma mulher bonita e que não precise do dinheiro por uma mera questão de sobrevivência?
A Mulher. Esse ser desejado por todos os homens.
A Mulher, se se souber fazer bonita, arranjada, limpa e atraente, é senhora de todo o poder do Mundo. Uma mulher atraente consegue tudo da maioria dos homens, apenas insinuando a possibilidade de uma futura troca de carícias com ela.
Um sorriso de dentes direitos compra polícias de trânsito, ganha lugares em filas de supermercado, recebe descontos, troca camisolas sem talão. E isto só para começar. E isto só para lembrar exemplos em que o homem subtilmente corrompido nem sequer vê a mínima hipótese de sexo em troca. Basta-lhe o sorriso e a dúvida com que vai para casa: “Será que se eu tivesse insistido, acabava nos lençóis dela?”
Essa mesma mulher atraente sobe lugares na escada da empresa, do partido, do grupo de amigas, do grupo de amigos, da turma da faculdade. Esses, mesmo que não queiram, não se apercebam, ou não admitam, estão sempre pendentes de uma remota possibilidade da sua reverência ser um dia recompensada com uma noite secreta de loucura. Uma mulher atraente conquista uma sala quando entra, e é tratada com mais carinho e com mais respeito do que as outras. Uma mulher atraente sabe como é olhada, e sabe como usar a sua aparência para conquistar os homens e as outras mulheres.
E o seu poder – ignorando aqui que pode ter mil e uma outras qualidades – sexual advém directamente da sua aparente inacessibilidade. De ser uma princesa linda e senhora de si, fiel guardiã do seu segredo mais desejado: a sua Sexualidade.
E quantas – quantas!! – mulheres lindas, que podiam passear a sua magia pelas quatro praças do Mundo se fossem dotadas de alguma cabeça, vendem esse maravilhoso prazer da sua cama (e do seu amor?) por umas centenas de Euros, todas as noites, durante anos das suas vidas, cedendo os seus corpos de fadas voadoras a desconhecidos brutos e feios?
Penso na fácil acessibilidade de possuir a mulher da minha vida por umas míseras notas, e toda a minha Razão se inverte. “Mas afinal” – penso – “afinal como é que elas são tão poderosas, se são tão baratas e acessíveis?”
Afinal, como podem duas mulheres iguais ter tanto diferencial de poder, uma talvez senhora do Mundo, outra uma prestadora de serviços acessível por baixo preço?
E nós, homens, seremos nós burros ao ponto de não compreender que não devemos ceder, nem por um momento, nem na fila do supermercado nem na reunião de trabalho, à mera aparência física, porque essa está acessível quando quisermos e em qualquer lado, a baixo preço?
Não. Nós, parecendo que não, sabemos bem a diferença entre a prostituta linda e a mulher linda. Nós sabemos bem que – apesar de sermos cegos pela noite com ela – a noite paga sabe a carne, apenas, e a noite sacada a ferro e fogo sabe, pelo menos um bocadinho, a desafio, a conquista, a vontade mútua, a auto-estima, quem sabe a amor. E cega. A noite conquistada cega-nos, por vezes.
E quem diz noite diz noites, ou dias, ou quanto tempo for, fazendo o que quer que seja. Por vezes, nem necessita de ser noite. Basta um beijinho. Basta saber-nos no bom caminho, na conquista daquele coração inacessível.
E então eu passo na rua, e abro revistas, e ouço histórias, de princesas encantadas por quem meio Mundo dava dois dedos e mais algum, que trocam essa sua maravilhosa dádiva por um par de sapatos novos ou umas calças de marca, ou até por um novo apartamento, e deprimo-me de novo.
Lindas de morrer, donas de qualquer homem com meia medida de masculinidade, vendem-se ao primeiro que aparece, ficando para sempre rotuladas a esse lote tão bem definido que são as Prostitutas, donas de todos os prazeres e carentes do segredo que perderam e que – qualquer um de nós se apercebe, quando as vê passar – jamais recuperarão.
E são nesses – e noutros – momentos de lúcida dúvida, que, apesar de atormentado pela questão essencial da princesa que se vende, compreendo quão pouco vale a aparência da Mulher, porque é tão fácil de comprar.
Nesses momentos apercebo-me do ridiculamente sensível que o Homem é a estímulos sexuais de mulheres lindas e compreendo então que a verdadeira beleza da Mulher está nela própria.
Desisto de me atormentar com o poder das mulheres lindas e com as razões da sua prostituição, e fico só na minha contemplação descomprometida da beleza da Mulher, da sua sensibilidade, das suas manhas, da sua graça pé ante pé, do cuidado consigo, das suas conjecturas labirínticas por um objectivo que nenhum homem alguma vez discernirá, pela sua batalha nas pequenas coisas, pelo seu olho atento ao pormenor.
E nesse momento tenho uma pena miserável de todo e qualquer Homem que compre o sexo de uma prostituta ou ceda ao mero indício de um corpo bem formado, e alegro-me por aqueles que sabem ver para além dessa carnalidade incontida do sexo fácil e saibam amar – mesmo que furtivamente, mesmo que por uma noite só – qualquer Mulher como ela é.
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